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Nun’Álvares numa Apresentação refrescante por Aires do Nascimento

Novembro 4, 2013

NunÁlvaresCapaAiresNun’Álvares Pereira é um personagem central para o Estado, pois esteve na origem da casa de Bragança, para as forças armadas, em particular para o exército, de que foi o mais ilustre comandante em combate, e para a Igreja católica, que o canonizou em 2009. Ora Estado, Forças Armadas e Igreja (no caso a católica)  são as instituições centrais de toda e qualquer organização política. O homem Nun’Álvares está assim no cerne da organização política portuguesa – para mais porque lhe deu a vitória na Batalha sem a qual ela não teria sobrevivido.

Nesse sentido, Nun’Álvares é um personagem contemporâneo. A 1ª República recorreu a ele para construir uma relação positiva com o catolicismo – tendo neste terreno desempenhado um papel simbólico crucial, paralelo ao de Joana d’ Arc em França.

Por um conjunto de razões, entre as quais avulta o modo como o apresentaram durante o Estado Novo, Nun’Álvares Pereira foi postumamente transformado num personagem  politicamente reacionário e socialmente retrógrado. Ele, o cofundador do moderno Estado-nação europeu, o mendicante prático de uma ordem religiosa, o praticante do gótico!

Como depois de amanhã, 6 de novembro, é o dia da sua festa litúrgica, é ocasião de examinarmos um livro que recentemente lhe foi dedicado, e cuja capa é acima reproduzida.  Aires do Nascimento biografou Nun’Álvares de um modo moderno: a sua experiência de classicista e medievalista universitário levou-o a analisar documentos, uma narrativa eminentemente pósmoderna e por isso mesmo hipermoderna. A análise documental sugerirá uma grande maçadoria, mas não é o caso. Aires do Nascimento  escreve de modo conciso, claro e modesto. A obra apresenta-se como «estudos», como «fragmentos», o que lhe reforça a dimensão moderna.

A biografia possível passa, entre outros. pela fixação do lugar de nascimento do Santo Condestável – por certo Cernache do Bonjardim, onde o biógrafo recorda que viveu como elemento dos Missionários da Boa Nova, anteriormente Sociedade Missionária Portuguesa – , a determinação da data da sua morte – que deve levar à mudança do dia litúrgico do santo – , a interpretação que Camões dá de Nun’Álvares n’ Os Lusíadas e a que Fernando Pessoa dele propõe na Mensagem; um exame da iconografia condestabriana; uma monografia do convento do Carmo; um anexo documental.

A paginação intercala no texto, pequenas  mas sempre legíveis ilustrações a cores o que torna mais ligeiro o aspeto do livro e mais aliciante a leitura. O leitor tem à sua disposição um exemplo, a seguir (para aumentar, clique na imagem).

NunÁlvaresPáginasInterioresAiresNuno de Santa Maria Fragmentos de Memória Persistente, da autoria de Aires A. do Nascimento, catedrático jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tem 344 páginas e foi editado pela Associação Regina Mundi, em 2010.

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