Pedro Baptista aborda o Catolicismo político nas suas Memórias
Pedro Baptista, o fundador da Organização Comunista Marxista-Leninista Portuguesa (OCMLP) e do seu jornal O Grito do Povo, acaba de publicar as suas memórias, Da Foz Velha ao Grito do Povo A Oposição maoísta à Ditadura Memórias 1948-1971, edições Afrontamento, 409 páginas, índice onomástico. O livro inclui oito páginas de extratexto fotográfico com documentação política e pessoal, do período final do Estado Novo
O título e a capa são barrocos mas o livro é simples e direto
Salientemos a atenção que o autor presta ao catolicismo político, que trata numa secção especial, e menciona várias vezes. O Grito do Povo, embora de obediência maoísta, foi um movimento original e enérgico, por vezes plebeísta, lembrando na sua pulsão a Gauche prolétarienne francesa. Estas memórias confirmam que os maoistas europeus (alguns pelo menos) mudaram o paradigma comunista no modo de encarar o catolicismo político.
Pedro Baptista escreve num estilo vulcânico, tu-cá-tu-lá, confessional e sentimental sem estridências nem bandirinhas e é rigoroso q.b.; a obra é grande mas os capítulos são pequenos e razoavelmente independentes uns dos outros, pelo que Da Foz ao Grito do Povo se oferece para leituras rápidas; o leitor só se cansará da sua leitura por excesso de entusiasmo. O memorialista é correntio, descontraído, tanta vez polémico, procurando o ajuste de contas, e assim espicaça o cidadão.
O livro entrelaça três memórias: de um portuense, de um maoísta e de um filósofo. O fio unificador desta biografia é busca da filosofia, que Baptista prossegue hoje, como profissão na Faculdade de Letras do Porto e como carisma pessoal. Esta busca da filosofia lembra uma moderna «busca do Graal», um viagem que, se não é religiosa no sentido estrito, é mais espiritual do que estatal: transmutou o catolicismo da infância no maoísmo libertador do começo da idade adulta e agora (já fora das memórias) tenta operar a mutação do maoísmo em filosofia. Sempre com brilho.