A Separação Há Cem Anos: O Entrudo e a Ameaça Jesuíta
Os portugueses da classe média continuavam a 15 de Março de 1911 a folhearem a Ilustração Portuguesa de 13. O carnaval era um grande tema; aumentara o número de crianças mascaradas em Lisboa, o que era um efeito inesperado da República. A revista ilustrada aproveitava para pôr meninas mascaradas de freira acima das meninas mascaradas de República – pretextando que as freiras eram ridiculariadas, o que por certo estava longe de ser uma opinião unânime dos leitores da página abaixo reproduzida. Era Carnaval, ninguém levava a mal.
A questão religiosa re-aparecia na grande imprensa. Na sua página 2, A Capital desse dia 15 salientava as renovadas malfeitorias do padre Gonzaga Cabral e dos seu «apaniguados». Os «apaniguados» eram os jesuítas. A malfeitoria consistia na distribuição de um panfleto de crítica à República, numa localidade da raia minhota. O vespertino republicano, queria salientar que os jesuítas continuavam a combater a República e que tinham de novo sido derrotados. Segue a notícia.
O título da notícia nem precisava de referir que Cabral era o superior dos jesuítas, o que revelava a força da propaganda republicana – pelo menos junto dos seus militantes de um grupo social alto, pois eram eles os leitores d’ A Capital. Bastava o subtítulo.
A imprensa católica estrangeira prosseguia os seus ataques à República. Nesse mesmo dia 15, La Croix, o diário católico francês, apresentava na primeira coluna da sua primeira página, debaixo do seu dramático Cristo na cruz, um sumário dos tristes acontecimentos de Setúbal de modo a fazê-los parecer uma subversão grave. E trocava o nome da cidade sadina, como o leitor pode verificar lendo a reprodução da notícia.